quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Relato de Rose Marques

Ilhas do Riso
“O Hipocondríaco”

Levar às comunidades ribeirinhas ou mais carentes um espetáculo teatral foi uma experiência muito enriquecedora, pois, mesmo como mero espectador, pode-se dizer que houve uma troca muito gostosa de energia!
Energia do local, energia das pessoas e energia pelo que o próprio espetáculo proporciona. Além do que, é muito prazeroso ver as reações da platéia, suas expressões ora de alegria ora de indignação por conta da personagem Beline, mas ainda sim com bastante humor.
Ah! Não poderia deixar de mencionar sobre a energia dos artistas que se empenharam e se divertiram levando alegria, riso e descontração a estas ilhas.
Os moradores dos locais onde houve as apresentações, foram pessoas acolhedoras e os espaços, como poderia dizer... os locais tinham uma paz encantadora e harmoniosa beleza, que nos fez, como espectadores, esquecer o calor pela alta temperatura da época e perceber apenas o calor humano e a alegria dos palhaços.
De certo, são viagens cansativas como é normal a qualquer viagem, além de ser trabalhosa para os artistas, pois carregar banco, carregar cadeira, carregar isso, carregar aquilo, mas o que não faltou no meio de toda aquela tralha foi o desejo de contagiar seu novo público com muita diversão e alegria!
O que, aliás, é muito interessante perceber aqueles que assistem a um espetáculo pela primeira vez! É como uma criança descobrindo algo novo, há um brilho inocente no olhar, admiram tudo e riem durante o espetáculo e é muito legal observar isso tudo!
Ter acompanhado o trabalho dos Palhaços Trovadores, um grupo teatral que usa a linguagem do clown, junto a estas comunidades foi um presente agradabilíssimo, pois a cada viagem renovei minha reserva de endorfina causada pela alegria que eles proporcionam, porém levam muito a sério o compromisso de levar o riso a quem dele queira partilhar.
Palhaços Trovadores: Oi, oi, oi!
Rose Marques

domingo, 5 de setembro de 2010

OUTRO OLHAR SOBRE OUTEIRO

Criamos uma prática dentro do projeto Ilhas de Riso: levar um ou mais convidados para nos acompanhar, assistir às apresentações e registrar fotograficamente e através de um depoimento escrito. Em nossa primeira viagem, à ilha de Outeiro, levamos a amiga Rejane Lima, pedagoga, ex-aluna do curso de formação de ator e aluna do segundo ano do curso de cenografia da Escola de Teatro e Dança da Universidade Federal do Pará. Rejane estudou clown comigo na Etdufpa, é uma grande companheira e com sua palhaça Bolacha participou conosco dos espetáculo “A Morte do Patarrão” e “Ó, abre alas!”. Também participou como convidada do espetáculo “Égua, xiri, tem termo!”.
Hoje recebi seu depoimento. Ei-lo:


“A magia de pessoas cujos narizes são vermelhos transformaram a tarde quente e pacata de Outeiro em um momento inesquecível de riso, alegria e festa. Cores, fantasia e palhaços transformaram a rotineira tarde da ilha em um mundo mágico. Pessoas chegavam a todo instante com seus olhares desconfiados e curiosos, e eram conquistadas pela palhaçada trovadora que preenchia e dava vida aquele espaço simples e comum de todo os dias. Adultos transformaram-se em crianças; olhares hipnotizados não conseguiam ser desviados; e crianças, jovens, adultos e idosos comungavam do mesmo riso e da mesma gargalhada, aquela verdadeira e espontânea que contagia e dá alegria só de ouvir. E, no fim da história, os Palhaços Trovadores poetizaram, encantaram e transformaram sonhos em realidade naquela singela tarde na ilha do Outeiro.” Rejane Lima

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Minhas Ilhas do Riso

Viajar é sempre bom. Viajar com um grupo, melhor ainda. Com um grupo de teatro, uma maravilha. Tudo se completa quando a viagem com o grupo de teatro é para pequenas comunidades. É assim que está sendo essa nossa aventura nas ilhas: completa.
Descobrimos as ilhas, seus caminhos de beleza. Descobrimo-nos a nós mesmos. Desbravamos nossas ilhas, e como as temos. E assim vamos nos superando.
Melhor de tudo é o prazer do encontro com pessoas tão distantes de nós, tão ilhadas de nós. E como são bonitas as crianças! Como são alegres as crianças! Como são receptivas, doces, as crianças! E como tem criança nas ilhas. As crianças têm sido nossa maior platéia, os adultos, mais tímidos, ficam distantes. Alguns poucos se aproximam, querem conversar. As crianças chegam junto. Querem nos ver de perto, ver nossa transformação... e de repente o palhaço começa a brincar com elas, a provocar, e elas entram de cara no jogo e riem e se divertem. Sem certa agressividade que vemos – e sentimos – nas crianças da cidade.
Mas vamos às ilhas!

Outeiro (14 de agosto, sábado)
De ônibus pra Outeiro, na maior diversão. Primeira viagem, coração apreensivo. Como será, vai ser em um centro comunitário, afastado do centro da ilha, com suas praias agitadas. Chegamos, susto. O lugar não era adequado, e não havia ninguém. Será que aconteceria o espetáculo? A cabeça agitava um plano B. E lá fomos eu e Cleice verificar se havia outro espaço, um lugar aberto, um gramado, quando passamos uma igreja e encontramos ao lado um salão aberto. É aqui, dissemos. Procuramos contato com os moradores para saber de algum responsável, era sábado, igreja fechada. Logo nos informaram de uma senhora e outra e outra mais adiante. O elenco se aprontando e Cleice e Alessandra pegaram a Kombi do integrante do centro comunitário e foram falar com a tal senhora responsável. Logo ela estava lá, solícita, pronta a nos atender com toda a atenção. Abriu a cozinha do espaço, os banheiros. Cedeu-nos energia para o som, ajeitou bancos. E os palhaços foram chegando, ocupando o espaço e a criançada tomando seu lugar, muitas mães e senhoras. Poucos homens. O espetáculo começou animado, alegre. Divertíamos-nos e o público também. Muitos risos: o Ilhas de Riso começava.
Os agradecimentos emocionaram. Prometemos voltar outra vez. Vontade não falta. Ouvi de um comunitário que aquele foi o primeiro espetáculo ali apresentado. Uma família veio falar comigo, dizendo que nos acompanha sempre. Estavam em uma Kombi também. Perguntei se não moravam na ilha. Disseram sim, moramos, mas em outra localidade. E solicitaram uma ida nossa no bairro deles. Quem sabe a próxima?

Combu (20 de agosto, sexta-feira)
Para ir ao Combu pegamos primeiro um ônibus, na Casa dos Palhaços. Sol a pino, uma da tarde. Mas a alegria da primeira viagem nos acompanhava. Divertíamos-nos. O motorista, Julio, era engraçado e comunicativo. Recebeu-nos com clássicos da música brega, que a um elogio meu e certo interesse, me foi presenteado. O cd está tocando em meu carro desde então. E é ótimo.
Depois do pequeno trajeto de ônibus, chegamos ao terminal fluvial da pç. Princesa Isabel, na Condor, ao lado do lendário Palácio dos Bares. O barco ainda não estava lá. Esperamos um pouco e lá vem o popopô. Não era o barco contratado. Ficamos sem saber se dava ou não o material. Olhei e disse, dá sim, vamos nessa. Carregamos tudo e lá fomos nós, no Luz Divina. Viagem calma, gostosa, o rio bonito de se ver, barcos passando aqui e ali. A cidade ficando se mostrando pelo rio, sujeira, lixo, miséria e os prédios saltando ao longe. Atravessamos, entramos em um furo e, mais adiante, desembarcamos na Maloca Sabor da Ilha, do seu Ailton – ele nos ajudou a organizar a programação.
Fomos escolher o lugar, e nos deparamos com um quintal, cheio de árvores. Olha daqui, dali, escolhemos um espaço entre dois açaizeiros. Montamos o cenário e me sentei em um dos bancos pra olhar como estava. De repente senti uma esquadrilha negra pousar feroz em meu braço esquerdo. Carapanãs vorazes me atacaram. De repente sentimos o drama: não dá.
Saímos de lá e fomos para frente da maloca. Uma espécie de trapiche grande de tábuas, na beira do rio. Ao fundo um açaizeirozinho, meio tombadinho, e mais além, meio borrados, os prédios de Belém – Combu é uma ilha próxima, bem em frente aos bairros do Guamá e Condor. Que paisagem! Ao lado, no rio, vezenquando passavam barquinhos e canoas. As crianças chegaram. Não eram muitas. Alguns adultos, uns jovens da cidade, alguns parecendo ser de outras paragens chegaram ao começar o espetáculo. Todos se divertiram, e nós também. Uma cena incrível foi um rapaz, parado em uma canoa no meio do rio, a dançar ao som das canções do espetáculo. O final foi uma grande emoção, com a criançada brincando e querendo tirar fotos com os palhaços.
Na volta a belezura do sol se derretendo na água e a música monocórdica e melancólica do barco, agora sim, o Lírio do Vale do Combu.

Cotijuba (21 de agosto, sábado)
Apresentação de manhã, tivemos que acordar cedo. Muito cedo. Joyce e Romana dormiram em casa, mais central. Pegamos o barco no Ver-o-Peso. Ficamos temerosos, pois achamos o barco pequeno, a viagem era longa e às vezes joga demais – alguns de nós passamos por um sufoco certa vez ao voltar de lá, depois de uma apresentação meio frustrada pelo IFNOPAP.
Mas decididos, encaramos o barco e a baía do Guajará e zarpamos para a ilha de Cotijuba. A cidade foi ficando pra trás e o encanto das águas foi nos acalmando. Nossas brincadeiras também e até nossas composições musicais: “Água... Guamá!” Eu, Vinícius e Ramon nos empenhamos na criação, mas não agradamos e fomos motivo de muita encarnação. E diversão. “Lindo, lindo, somos palhaços!” E o palhaço ri de si mesmo. Rimos.
Chegamos uma hora e meia depois. Cotijuba é uma ilha bonita. Existe, na entrada, as ruínas de uma antiga prisão que foi também uma escola (será que esta minha informação está certa?). É bonito, tem umas charretes engraçadas, puxadas a cavalos e burros que levam os visitantes às praias. E uns bondes puxados a pula-pula, que realmente pulam muito na rua esburacada. Fomos num desses. E pulamos tanto e rimos de tanto pular.
Cotijuba é uma ilha bonita, de praias bonitas, mas bem que podia ser mais bem cuidada.
Nossa apresentação foi organizada pelo grupo de Mulheres da Ilha. Em um salão ao lado da igreja de São Francisco de Assis. A criançada já nos esperava, e outras mais foram chegando. Algumas mães também apareceram, mas não muitas. Sábado é dia de trabalho na ilha, que vive de turismo, em função de suas praias bucólicas. A apresentação foi boa. Como sabemos que o espetáculo tem um texto mais pesado para as crianças, apostamos nas possibilidades corporais cômicas dos palhaços para aliviar este peso. Ampliamos isso e deu certo. A criançada curtiu, mas o horário chamou algumas mais cedo para o almoço.
Nossa volta foi alegre, no pula-pula, e tranqüila no barco. Cheguei meio mareado, mas feliz. O mundo balançava um pouco, e fui pra casa no balanço das ondas da Baía do Guajará.

Ilha das Onças (22 de agosto, domingo)
Mais um dia tendo que acordar bem cedo. Pegamos o barco novamente no Ver-o-Peso. De cara não gostei do barco e nem do barqueiro. Grosseiro, ele criou certa tensão. Resolvi ficar calmo e afastado, até que resolvêssemos se dava ou não para ir. Conseguimos acomodar nossas tralhas e a todos. E lá fomos nós. Quarenta e cinco minutos de popopô, atravessando a baía e entrando em dois furos até chegarmos na Comunidade de São Raimundo, no furo Madre Deus. Domingo de festa do santo, comunidade reunida, salão da igreja enfeitado de balões coloridos, a missa ainda não terminara. Fomos muito bem recebidos, alojados na escola da comunidade onde tratamos logo de nos vestir. Não podia haver atraso, a saída de lá não podia ultrapassar uma hora da tarde, sob o risco de termos que ficar e voltando somente no dia seguinte: o rio seca demais e não tem como sair dos furos.
Algumas crianças se aproximaram, queriam ver os palhaços se vestindo. Eram alegres e educadas. O lugar é muito bonito. Muito verde. As criações andavam por baixo das pontes e casas: galinhas, porcos. Era a festa das crianças e depois da missa ganharam sanduíches e guloseimas. Uma animação danada.
A apresentação começou com um bom pique. A platéia animada ria. Parecia estar entendendo tudo, todas as palavras e situações. Isso me chamou muito a atenção. Mas ao mesmo tempo, eram dispersivos. Uma senhora ao lado, chamava aos berros uns garotos para assistirem. Uns senhores soltaram várias vezes, no meio do espetáculo, foguetes ruidosos. Outro, para dar um aviso a alguém lá longe no trapiche, veio por trás de onde estávamos e gritou muitas vezes. Para eles isso era natural, uma coisa não impedia a outra. O espetáculo fazia parte da festa e a festa era deles. Valia rir, falar alto, comer, distribuir pipoca às crianças no meio das cenas... e nós, sem outra saída, embarcamos no jogo deles. E “bagunçávamos” a estrutura do espetáculo, trazendo aquela festa para dentro da cena.
A comunidade, depois da apresentação, nos ofereceu um almoço de açaí com charque frito e camarão. Nos lambuzamos na comilança. O carinho recebido foi muito grande. Eles mesmos embarcaram nossas coisas, enquanto comíamos. Parti de lá emocionado, via alegria nos olhos das senhoras e senhores, das crianças.
Espero voltar à ilha das onças novamente.

Marton Maués
24/08/2010

ps: Não tivemos um grande público, como às vezes temos em Belém e até em outras cidades do interior, mas me pergunto: que medida de grandeza, que instrumento de mensuração utilizar nestas horas?

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ilha do Combu: o relato de Alessandra Nogueira

Ó NÓS AQUI OUTRA VEZ

Um caminho de águas. Uma ilha chamada Combu. Um encontro de risos.
Foi assim nossa segunda apresentação do projeto “Ilhas de Riso’.
Desta vez, nossa jornada começou por uma estrada de asfalto e mudou para uma estrada de rio. Barrento, cercado de árvores, canoas e pássaros brancos (as garças, companheiras de viagem dos barqueiros).
Na chegada, a boa hospitalidade de quem vive junto à natureza. Calmaria e sorrisos no rosto de seu Ailton, dono do lugar: bar “Sabor da ilha”.
Começa então mais um ritual de ser palhaço: figurino, maquiagem e......... O NARIZ.
No ar, um cheirinho bom de café feito na hora.
As crianças chegam animadas, de banho tomado e sorriso no rosto.
Começa o espetáculo. Mais uma vez, experimentei muitas sensações: alegria, emoção, surpresas. De novo uma boa troca. De olhares, risos e novidades. Um lugar de muitos sons: vento, pássaros, gente passando de canoa, olhando o espetáculo de longe e de alguma forma reagindo a isso com sorrisos, espanto ou até dançando nossas músicas, como um rapaz que parou sua canoa em frente ao lugar da apresentação só para dançar um pouco.
Durante a apresentação chega um barco com visitantes. Outra boa surpresa para ambos os lados. Acabaram nos assistindo. Novas risadas, outros olhares.
Ao final, aquela festa. Fotos com as crianças, abraços carinhosos... Desmontar. Mas antes... Vamos saber o que acharam? O registro.
Pedimos para que algumas pessoas (crianças e adultos) falassem de suas impressões.
Gravandoooooo.
As crianças falaram. Seu Ailton falou. O Iuri e a Bruna também (os que chegaram no meio, rsrrsrsr). Alguns atores, afinal, estão ali, sentindo.
É sempre bom registrar, pois o tempo passa e depois só ficam as frestas do que passou.
As crianças gostaram. Disseram que nunca tinham assistido teatro. Outras nunca tinham visto um palhaço. Ufa! Foi uma ‘overdose’, rsrsrsrsrsrrs. Risos, teatro e palhaços (14 éeeeeeegua).
Enfim voltamos pra casa com o coração acalentado e feliz. Mais um dia de lazer-trabalho. Mais um dia de troca e encontro. De novo na estrada de águas e pedras.
Até mais...

Alessandra Nogueira – palhaça Neguinha

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Sobre a Ilha de Outeiro

Outeiro, como é conhecida popularmente a ilha de Caratateua, é uma ilha e distrito de Belém, ligada ao continente através de ponte, distante 25 km do centro da capital, possui 50 mil habitantes, é a mais próxima de Belém, possui todos os três tipos de solo: varzea, igapó e terra firme, permite as culturas intensiva e extensiva, acrescidos de orla de belissimas praias, como atrativos cenários para atividades de turismo e lazer social. Local com praias de rio, bastante procurado pela população metropolitana.

Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Ilha_de_Caratateua. Acesso em: 19 agosto 2010.

terça-feira, 17 de agosto de 2010





Ilhas de Riso: O hipocondríaco em Outeiro (por Alessandra Nogueira)

E lá vamos nós outra vez. É minha gente, começamos outra caravana. Agora é “Ilhas de Riso”.
Vem de novo aquela sensação que deve ser ancestral de viajante, de trupe mambembe como nossos antigos amigos de rua, de arte. Atores que caminhavam por todos os cantos levando arte, alegria e boas energias para aqueles que se deixavam fisgar pelos braços do teatro.
Ser palhaço, então, é levar tudo em dobro. Será? Ou é pensamento metido de palhaço? Rsrsrsrsrsrsrs.
Mas voltando à caravana...
Primeira ilha: OUTEIRO
Arrumar as coisas, pegar o ônibus, seguir estrada... gargalhadas, comidinhas e mais gargalhadas. Passamos pela ponte. Estamos chegando.
Na chegada os olhares curiosos, dos dois lados. Olhar o lugar, as pessoas... Começar
Nosso grito: Palhaços Trovadores, oi, oi, oiiiiiiiiiiiiiii. Bater as mãos desejando meeeeeeeerda.
Que emoção poder levar gargalhadas, arte e brilho aos olhos das crianças, mães, avós, vizinhos, comadres... GENTE.
Foi lindo. As lágrimas me vieram aos olhos já no finalzinho do espetáculo. Quem sabe se aquelas pessoas já haviam visto teatro? E será que vão continuar vendo? No final isso não é o mais importante. Causa emoção pensar nisso, mas não é o mais importante. O que vale no fim, é o instante em que tudo acontece. A suspensão do tempo, onde nem um de nós está no comum. É outra coisa. Cada um sabe o que representa esse instante. Esse suspiro.
Como diz a música final: ...”vida de artista é assim...” E é mesmo.
Vamos lá então com mais emoção, poesia e riso.

Alessandra Nogueira - Palhaça Neguinha

domingo, 15 de agosto de 2010

Relatos - Caravana Clown

Sobre a Caravana:
Em 2004, patrocinados pela Fundação Nacional de Artes (FUNARTE), através do edital Caravana Funarte, os PALHAÇOS TROVADORES realizaram suas primeiras viagens para fora de Belém. O projeto CARAVANA CLOWN percorreu 15 cidades do estado do Pará e 10 do estado do Amapá, com a apresentação do espetáculo “Amor Palhaço”. As viagens começaram em novembro de 2004 e terminaram em março de 2005.
Foram visitadas as seguintes cidades:
Pará: Benevides, Castanhal, Ananindeua, Inhangapi, Barcarena, Santa Bárbara, São Francisco, Colares, Moju, Salinas, Santarem Novo, Curuçá, Santo Antonio do Tauá, Santa Isabel e São João da Ponta.
Amapá: Macapá (duas apresentações), Coração, Santana, Ilha de Santana, Igarapé da Fortaleza (Santana), Mazagão, Tartarugalzinho, Porto Grande (Comunidade Monte Tabor), Pracuúba e Ferreira Gomes.
Foi uma experiência maravilhosa, a troca de saberes e afetos com pessoas de lugares tão diferentes, nos transformou a todos. As belezas naturais dos lugares, o carinho e cuidado das pessoas conosco, a felicidade dos adultos, jovens e crianças... Tudo isso não tem preço. Nos estimulou a continuar em frente, criando nosso trabalho e a pensar, sempre e sempre, e novas aventuras...
É importante registrar que em todas estas viagens contamos com parcerias fundamentais das prefeituras das cidades, de instituições como o Sesc do Pará e do Amapá e de muitos amigos, aqui e lá.
Nosso muito obrigado a todos!

Marton Maués, diretor artístico dos Palhaços Trovadores


Pracuúba: um garoto, um brinquedo...

A experiência da Caravana Clown, projeto realizado pelos Trovadores em 2004/05, foi muito prazerosa, em muitos aspectos: a oportunidade de viajar e mostrar nosso trabalho em outras cidades, a cumplicidade do grupo, o brilho no olhar do público, ao ver aquele bando de palhaços falando de amor...
Mas tem um fato que, apesar de simples à primeira vista, me marcou bastante e, vira e mexe, me vem à lembrança: na nossa apresentação na cidade de Pracuúba, que mais me parecia um vilarejo, resolvemos nos arrumar no meio da praça mesmo. Na verdade, não lembro se essa prática foi feita em todas as nossas apresentações, mas ali naquele lugar, nós, os palhaços se maquiaram na rua.
Aos poucos, que era de se esperar, os habitantes dali começaram a se aproximar da gente, curiosos e surpresos com aqueles palhaços ali, se pintando. E é claro que a maioria desses curiosos era a criançada, alegres e desconfiadas com aquelas figuras que, certamente, nunca haviam vistos. Bem, em um determinado momento, um garoto se aproximou de mim, observando o meu ritual de passagem, já que a Suani ainda estava ali, mas já dando o ar da graça da Aurora Augusta.
Depois de alguns minutos me observando, ele, o garoto, franzino, se aproximou e me perguntou: “tia, a senhora vai dá um brinquedo? Eu não tenho nenhum brinquedo, a senhora tem um brinquedo?”. Nossa, aquele pedido me cortou o coração, pois o olhar daquele garotinho, foi uma flechada em meu peito... Eu respondi, um tanto tristonha, que não tinha nenhum brinquedo, mas que ele iria gostar do nosso presente, que seria a apresentação de um espetáculo de teatro. Percebi que ele não se importou muito, acho que nem tinha consciência do que seria teatro, e ele finalizou nossa conversa com o seguinte pedido: “Mas a senhora vai voltar aqui? Quando a senhora voltar aqui, a senhora traz um brinquedo pra mim?”. Eu não voltei mais à Pracuúba, mas até hoje, depois de cinco anos, me sinto em dívida com esse garoto.
Mas ainda voltarei lá!
Suani Corrêa - palhaça Aurora Augusta